quinta-feira, 18 de março de 2010

O estranho

Opa, desculpe a demora, mas eu estive pensando em algo sincero para postar aqui. Recentemente estive lendo um livro de contos de um carinha chamado JOSTEIN GAARDER (isso ae, o mesmo autor de “O Mundo de Sofia”), o nome do livro é “O PASSARO RARO”. Alias, os últimos 5 livros que eu li são deste mesmo autor, ele simplesmente mudou minha forma de ver o mundo.

Voltando ao blog: Não pretendo fazer isso muito frequentemente aqui, mas desta vez vou abrir uma pequena exceção pela profundidade filosófica da coisa, estou postando a seguir um "pequeno" trecho de um dos contos dos livros, o nome do conto é “O Critico”, o trecho extraído é da resenha: “O estranho”, devido ao tamanha da resenha (15 paginas, divididas em 12 partes) vou postar apenas a 1ª e a 2ª parte, caso se interessem procurem ler o livro, garanto que vai ser muito mais LIBERTADOR.

.

.

.

“[...]


O Estranho

1

Há alguma coisa estranha. Alguma coisa não está certa. Agora posso dizer isso com certeza. Não tenho mais nenhuma dúvida de que estão me fazendo de bobo.

Na verdade, não pode ser. É totalmente impossível. Mas eu vejo apenas isso; tudo o mais é acaso.

Essa idéia me dá coceiras pelo corpo todo. Fico nervoso, perturbado. Então, pulo a cadeira e fico andando pela sala, sem parar, de um lado para o outro.

Eu me levanto e me sento, me sento e me levanto outra vez.Mudo um quadro de lugar quinze vezes por hora. Eu leio vinte e três vezes a mesma e única frase. Tiro xícaras limpas do armário e as lavo para ficarem ainda mais limpas. Esvazio o cesto de lixo para achar um selo usado ou um clipe de papel. E o que é ainda pior: fico na frente do espelho fazendo caretas pra mim mesmo.

Eu não estou ficando louco. Também não sou neurótico. Não é comigo que há algo errado. Também não é um sonho. Estou completamente acordado, duplamente acordado, como dois dias que coincidissem.

A verdade é que tem algo errado acontecendo pelas minhas costas. Mais ainda: tudo se passa ali. Tudo. Infelizmente não tenho olhos na nuca. Infelizmente, infelizmente!

Mas agora não vou mais tolerar isso. Eu não posso aceitar esse estado de coisas. Vejamos, por exemplo, a vida. A vida tornou-se impossível para mim. A vida está reservada para os idiotas.

Não estou pensando na minha vida privada. Vida privada! Que se dê por feliz quem puder proferir uma palavra tão absurda sem precisar fazer careta. Há quantos anos já não tenho mais uma “vida privada”? Também não estou pensando na planejada ampliação do antigo prédio da prefeitura. Já fundamentei suficientemente minha opinião sobre esse tema. Também não estou pensando no anteprojeto de orçamento do governo. Para mim, isso não faz a menos diferença. Nem ao menos estou pensando no futuro de nosso planeta. Para mim, até mesmo nosso planeta não faz a menos diferença. Como é que podemos nos achar tão importantes...

Estou muito agitado para poder pensar em alguma coisa. Aquilo em que se consegue pensar também pode ser controlado. O que se pode nomear com palavras pode ser dominado. Mas isso aqui é pior. Muito pior.

Durante as ultimas semanas, a linguagem me abandonou. Palavras frases e opiniões ficaram para trás, assim como chocalhos e chupetas representam um estágio superado.

Não estou mais em casa na linguagem. Ela me enjeitou. Ela me expulsou para uma ilha. Para um asteróide. Se é que afinal existe alguma linguagem. Mas será que isso é certo? Nada é certo.



2

No pensamento não acontece nada de importante. O que acontece então? O que são pensamentos senão a repetição de impressões sensoriais?

No pensamento existe apenas o que os sentidos percebem.

O importante se passa atrás das minhas costas. Estou trancado numa caverna, sentado de costas para a entrada. Os dias passam, e eu fico olhando para as paredes da caverna. Não da para ver o menos facho de luz. De que me serve então dispor dos meus sentidos? Para que olhos que não distinguem nada alem da escuridão da caverna?

Eu não estou sozinho. Esta não é uma cela solitária. Não, aqui estamos todos reunidos. Toda a humanidade. Todos nós estamos aqui sentados nessa caverna.

Então, pelo menos eu teria alguém para conversar. Mas sobre o que falar se não se pode ver nada? E haveria ali alguém que compartilhasse o meu destino? Não, não – essa possibilidade também me foi tirada. Pois ninguém compreende que se encontra numa caverna. Todos os outros acreditam estar vendo tudo. Eles se sentem bem e não querem ir embora.

A mim, me faltam olhos na nuca. Mas sei que lá fora na entrada da caverna alguma coisa está acontecendo. Eu sinto isso como um formigamento no estômago, nosso mais confiável órgão dos sentidos. Alguma coisa em mim me dá coceiras. É como se eu tivesse nascido com uma fina camada de penas sob a pele. Talvez por isso eu fique tão perturbado quando vejo gansos. Gansos me provocam, e um dia desses vou pular a cerca do vizinho e matar seus gansos. Simplesmente vou matá-los.

[...]”

4 comentários:

Anônimo disse...

um blog sem postagem e um blog vasio
não postar e reconhecer que perde a essencia do que o torna tão bom


fassa o favor de atualiza-lo sempre


TAylor

Cavaleiro da Triste Figura disse...

vai tomar no cu taylor!

Babih Xavier disse...

Estar preso dentro de sí pode ser pior do que prisão física... tenso \o
Acho que esse cara anda meio alienado com cavernas rsrs

Cavaleiro da Triste Figura disse...

num eh soh ele nao
eu tb...
foi por isso q eu postei... me identifiquei mto com o texto!!!

Postar um comentário